O homem é um ser com múltiplas facetas que precisam ser compreendidas, valorizadas e equilibradas. Sempre existe o risco de adotarmos posições extremas, enfatizando certo aspecto da nossa natureza e negando os demais. Assim, nos tornamos pessoas muito racionais, ou emocionais, ou espirituais, quando deveríamos ser tudo isso na medida certa (com domínio do Espírito). O racional pode nos conduzir ao silêncio reflexivo. O emocional é agitado e ruidoso. O espiritual toca na essência do relacionamento com Deus. O equilíbrio perfeito é utópico, mas sempre podemos e precisamos melhorar.
Sobretudo quando se trata do culto ao Senhor, razão, emoção e espiritualidade deveriam estar reunidas (Rm 12.1). Se Paulo não houvesse escrito acerca do culto racional, defenderíamos até à morte a tese do culto espiritual. Um culto apenas emocional também não é adequado. A fé não depende de sentimentos, embora possa favorecer sua ocorrência. A presença de Deus em nosso meio, por exemplo, é fato constante que não depende do nosso estado emocional. Por outro lado, não podemos condenar as emoções no culto, enquanto manifestações legítimas da alma diante do Senhor, observados os princípios de ordem e decência.
Alegria, tristeza, riso e choro são constantes nos relatos bíblicos, principalmente nos salmos, demonstrando o lado emocional dos servos de Deus. Jesus, como homem perfeito, também Se emocionou (João 11.35).
Mas o nosso culto não se resume às emoções, mesmo porque elas se manifestam também em outros lugares e situações, seja pela influência da música, dos esportes, de um filme romântico ou de uma novela dramática. Até a mentira nos emociona, ainda que estejamos conscientes dela. Não podemos confundir espiritualidade com emocionalismo. Inclusive, corremos o risco de apelar para o estímulo das emoções, imaginando que elas sejam espirituais. Assim, o fundo musical de uma pregação pode afetar os ouvintes mesmo quando a mensagem não faz sentido. Não se trata de colocar aqui uma restrição, mas estejamos atentos a possíveis tentativas de manipulação emocional com intenções diversas.
É importante ressaltar que as nossas emoções não movem o coração de Deus. Nada vale o choro sem arrependimento (Hb 12.16-17; Gn 27.38; Nm 14.1) nem a alegria pecaminosa (Jz 16.25; 18.20). A verdadeira espiritualidade não elimina as emoções nem delas depende, mas caracteriza-se, a priori, pelo PODER. Jesus poderia ter feito uma lista de coisas que os discípulos receberiam, mas Ele disse: “Recebereis PODER ao descer sobre vós o Espírito Santo […]” (At.1.8). Digamos que esse é o primeiro impacto. Sua ação em nós não deve ser confundida com pulos, gritos e agitação, embora essas coisas possam ocorrer por nossa própria iniciativa. O poder se revela nos resultados, sejam manifestações sobrenaturais, dons espirituais ou, de preferência, mudança de caráter. A razão e a emoção fazem parte da nossa vida, mas é o poder do Espírito Santo que nos vivifica.
:: Pr. Anísio Renato de Andrade