Em meio à polêmica e acalorada discussão da reforma da previdência, tema tão relevante para o país, os Tribunais Superiores tem conseguido chamar a atenção do Brasil, ora pela arbitrariedade nas decisões que envolvem membros da Corte, ora pela redução de pena de condenados pela Lava-Jato. Enfim, um vasto histórico não nos falta para destacar as últimas peripécias do Supremo Tribunal Federal. A última manchete de destaque foi o apetitoso cardápio da Corte, objeto de licitação, no dia 26 de abril, no valor de 1,1 milhão de reais.
O cenário nos faz lembrar os tempos bíblicos. Davi, o homem mais poderoso de sua época, iludiu-se com a possibilidade de fazer uso do poder de rei para obter vantagens próprias. Era tempo de guerra. Os homens de Israel estavam em campo de batalha, e Davi, o líder, estava no aconchego do palácio (2 Samuel 11 e 12). Numa dessas tardes, o rei estava no terraço de sua casa e, de lá, viu a mulher de Urias tomando banho. Encantado com a beleza de Bate-Seba, Davi a tomou para si e, na sequência, mandou Urias para a linha de frente, pois Bate-Seba havia engravidado.
Destaco dois erros cruciais de Davi que o levaram a amargar pesadas consequências. Davi era líder, por isso deveria estar com o seu povo, lutando suas lutas e sofrendo suas dores. Esse é o papel de quem está à frente de uma nação.
Quem vai pagar a conta?
O Brasil atravessa uma grave crise econômica e, sem hipérbole alguma, nunca possuiu educação exemplar. O sistema público de saúde não atende às demandas da sociedade. A violência faz parte do dia-a-dia do cidadão, e pobreza é a realidade de milhares e milhares de famílias.
A nossa mais alta Corte, que em seus votos costuma demonstrar conhecimento tão profundo da realidade brasileira, não consegue compreender o óbvio. Muitos brasileiros estão passando fome, e o STF, preocupado com a safra do vinho que vai beber. Nem ao menos se lembra dos inúmeros famintos e anônimos que serão obrigados a pagar essa conta. O STF está concentrado na quantidade de prêmios internacionais que essa bebida alcançou, enquanto muitos jovens não conseguem, sequer, a premiação do primeiro emprego. Quanto desprezo pela dor do povo brasileiro! Onde estão os guardiões da lisura, da moralidade, da dignidade da pessoa humana? Provavelmente estão se deliciando com fartas porções de bobó de camarão, bacalhau, muitas lagostas e, para concluir as finesses, com uísques envelhecidos por doze, quinze ou dezoito anos.
O segundo erro de Davi foi usar uma prerrogativa legal para obter vantagens próprias. Como rei, podia enviar soldados para o fronte. Mas sua intenção não era o bem comum. O objetivo de Davi era matar Urias. Licitar não é problema. Pelo contrário, é uma ferramenta que tem por finalidade coibir atos de corrupção e favorecimento. Contudo qual é o objetivo de licitar manjares exóticos e tão distantes da realidade brasileira? Isso é usar de uma prerrogativa para atos escusos.
Como consequência de seu erro, Davi foi envergonhado perante toda a nação de Israel (2Sm 12.11-14). Deus abomina a injustiça, sobretudo quando exercida por aqueles que deveriam prioritariamente repudiá-la.
A boa notícia é que Deus perdoou Davi assim que ele reconheceu o erro e mudou de atitude. Ele foi um bom rei e marcou positivamente a história de seu povo. Assim oremos para que o STF resplandeça justiça e verdade sobre o Brasil.
:: Flávia Raíssa Said de Roure [Grupo de Ação Política – GAP]
fonte: lagoinha.com